No dia 29 de janeiro de 2011, um prédio em construção com mais de 30 andares desabou na Tv. Três de Maio, no bairro de São Brás, região central de Belém. Era uma tarde de sábado e chovia muito na cidade. Houve um desespero generalizado no local. Três pessoas morreram por conta do desmoronamento: dois operários, que trabalhavam na construção, e uma idosa, que morava na casa ao lado e foi soterrada pelos destroços do que viria a ser o Edifício Real Class. Vizinhos de outro prédio ao lado saíram às pressas de seus apartamentos por precaução, pois poderiam acontecer novos desabamentos.
Naquele momento, uma grande equipe do Jornalismo e da Técnica da TV Liberal estava almoçando, após a transmissão, ao vivo, do especial de sete anos do programa “É do Pará”, no complexo Cidade Folia. Muitas pessoas começaram a ligar para a Redação da emissora, a fim de informar sobre a tragédia. Lá, a editora Daniela Martins e a apresentadora Priscilla Castro, que haviam feito o JL 1 daquele sábado, atendiam as ligações e tentavam entender o que havia ocorrido. Elas já estavam quase deixando à TV, mas optaram por retornar para atender as chamadas. Daniela Martins pediu para a família enviar o almoço porque ela iria permanecer trabalhando. A jornalista Simone Amaro, naquela época chefe de Redação da TV Liberal, foi imediatamente informada pelo telefone sobre o ocorrido. Assustada, rapidamente acionou toda a equipe técnica e Álvaro Borges, então diretor de Jornalismo. Álvaro e Simone foram para a TV Liberal organizar a cobertura junto aos repórteres de vídeo e repórteres cinematográficos. A equipe técnica toda partiu para o local dos escombros com a van da Unidade Móvel de Jornalismo, que faz transmissões ao vivo.
Em entrevista ao Memória TV Liberal, Simone Amaro contou que “tiveram sorte” e rapidez na cobertura porque a estrutura havia sido previamente montada para a transmissão do “É do Pará” daquele dia. Não foi preciso acionar todo mundo em um sábado, quando, normalmente, a equipe é menor por se tratar de um fim de semana. Adelson Albernás, operador da câmera do LibCop, explicou que, toda vez que o helicóptero levanta, é preciso fazer um plano de voo. Mas, naquele momento, não dava tempo e logo o LibCop partiu para o local para registrar as primeiras imagens. Antenor Filho, editor de imagens, soube do acidente e usou o próprio carro para levar a repórter Mariana Faria e o auxiliar Edmilson Luz, que estavam na emissora, ao local. O auxiliar e o repórter cinematográfico do turno da tarde ainda não haviam chegado porque chovia muito. Antenor mobilizou o auxiliar Edmilson, que havia trabalhado pela manhã. Ele pegou uma câmera e captou as primeiras imagens dos escombros. Foi a primeira equipe da TV Liberal a chegar ao lugar da tragédia. Quando Mariana Faria se preparava para gravar, ouviu-se um grande estalo e todo mundo correu em busca de proteção. As pessoas achavam que o prédio ao lado também iria desabar. O repórter cinematográfico Edmilson Luz continuou gravando e registrou o pânico na região. A cena é uma das mais lembradas do caso. Segundo Simone Amaro, todo mundo foi para a Redação naquele dia para ajudar. Quem estava de folga, apareceu e se disponibilizou.
Assim que chegou à TV Liberal, Álvaro Borges negociou a entrada de plantões do Jornalismo ao longo da programação. A TV Liberal exibiu mais de dez plantões naquela tarde. Todos apresentados por Priscilla Castro, no estúdio da emissora. O primeiro entrou no ar às 14h29, interrompendo a exibição do programa “Estrelas”. Informou sobre a queda e trouxe imagens feitas com um celular. O segundo plantão interrompeu a “Sessão de Sábado”, pouco tempo depois, já com as primeiras imagens aéreas exclusivas, captadas pelo LibCop. Vários plantões continuaram durante a sessão de filmes e o programa “Caldeirão do Huck”. Mais tarde, no intervalo da novela “Araguaia”, foram exibidos outros dois boletins com mais informações.
A apresentadora Priscilla Castro contou, ao Memória TV Liberal, que nem teve tempo de se preparar para a edição do JL 2 daquela noite. Ela passou a tarde no estúdio, entrando para todos os plantões e, quando percebeu, o jornal já estava quase entrando no ar. Nélia Ruffeil, editora-chefe do “Jornal Liberal 2ª Edição”, estava de folga. Soube do que havia ocorrido e foi logo para a emissora para ajudar na cobertura. Aquela edição do JL 2 já começou com as imagens da tragédia, sendo o único destaque da escalada (quando os principais assuntos do telejornais são apresentados). Foi quase toda dedicada ao assunto. A repórter Layse Santos, que estava mais cedo no programa de aniversário do “É do Pará”, entrou ao vivo no telejornal e entrevistou o presidente do Conselho Regional de Arquitetura. Do LibCop, Igor Fonseca mostrou, também ao vivo, como estava o local.
Na segunda-feira seguinte, os telejornais da TV Liberal continuaram relatando os desdobramentos do acidente. O JL 2 daquela segunda foi apresentado por Nélia Ruffeil diretamente do lugar da tragédia. Uma semana depois, no domingo seguinte, o “Liberal Comunidade” exibiu uma edição especial sobre o desabamento do Edifício Real Class. Apresentado pela repórter Jalília Messias, mostrou as investigações, entrevistas, o trabalho dos bombeiros nos destroços, a angústia de familiares e de moradores do prédio ao lado. O Jornalismo da TV Liberal continuou acompanhado o caso durante muitos anos.
Ainda em 2011, o Governo do Pará divulgou um parecer que apontava falhas como o uso de estribos de atracação dos vergalhões menores do que o recomendado, o que causou o rompimento de dois pilares do térreo da construção. Os engenheiros responsáveis pela obra, Raimundo Lobato da Silva e Carlos Otávio Santos de Lima Paes, tiveram seus registros cancelados pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Pará (Crea-PA). A decisão foi tomada após a Câmara Especializada de Engenharia Civil, Geologia e Segurança do Trabalho considerar que os engenheiros feriram o código de ética profissional. Os engenheiros também responderam criminalmente pela tragédia. Em 2016, Raimundo Lobato da Silva foi condenado por homicídio culposo de três vítimas e lesão corporal de uma. A pena de três anos e 20 dias de detenção foi revertida em prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária no valor de cinco salários mínimos. O outro acusado, Carlos Santos de Lima, teve o processo julgado improcedente. O juiz alegou insuficiência de provas contra o acusado.
Assista ao webdoc com depoimentos dos profissionais que participaram da cobertura do desabamento do edifício Real Class.