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Massacre de Eldorado do Carajás

21 de abril de 2023

No dia 17 de abril de 1996, às 17h, um grupo de 300 trabalhadores sem-terra impediu a passagem de carros e caminhões na rodovia PA-150, no sul do Pará. Os trabalhadores manifestavam contra a demora do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em desapropriar a Fazenda Macaxeira, de 40 mil hectares. Os policiais tentaram dispersar os manifestantes lançando bombas de efeito moral, mas os sem-terra avançaram e atiraram pedras e pedaços de pau sobre os PMs. A polícia recuou por alguns instantes. Porém, a reação veio em seguida, com disparos de metralhadora. Resultado: 19 trabalhadores mortos e dezenas de feridos.

A repórter Marisa Romão, da TV Liberal, estava no local. Pouco antes do massacre, o repórter cinematográfico da emissora havia ido a Marabá para consertar a câmera, que estava com defeito. Osvaldo Araújo, do SBT, ficou no local acompanhando a repórter da TV Liberal e registrou todo o massacre. A repórter Marisa Romão foi testemunha ocular e pediu aos policiais que parassem de atirar. Ela se abrigou dentro de um barraco de sem-terra onde havia crianças e mulheres.

Após o tiroteio, Marisa ligou para a Redação de Belém e avisou o que tinha ocorrido, mas não tinham mais as imagens. Os jornalistas da TV Liberal que participaram da cobertura, ouvidos pelo Memória TV Liberal, contam que a fita com as imagens foi retida pelos policiais no local. Houve uma intensa negociação entre a direção de Jornalismo da TV Liberal e o governo do estado para que o material fosse liberado, o que só aconteceu no dia seguinte. A jornalista Regina Alves, então editora do Núcleo de Rede, relata que, assim que as imagens chegaram à TV no início da tarde de 18 de abril, dia seguinte ao massacre, foram logo geradas para a TV Globo e exibidas ainda durante o “Jornal Hoje”.


Regina Alves, primeira editora do Núcleo de Rede da TV Liberal, fala sobre os bastidores da cobertura do caso que ficou conhecido como Massacre de Eldorado do Carajás, em 1996.

À noite, o “Jornal Nacional” destacou o assunto em uma nota coberta (quando o apresentador narra as imagens que estão sendo exibidas) lida por William Bonner, mostrando os detalhes do caso. Já no dia seguinte à divulgação das imagens, o “Bom Dia Pará” trouxe uma edição especial com a repercussão do episódio em reportagens. O apresentador Ney Messias Jr. ouviu, por telefone, a repórter Marisa Romão, que falou sobre o clima na região após as mortes. No estúdio, o então governador Almir Gabriel foi entrevistado ao vivo. Ele disse que o governo era contra a violência, mas o que aconteceu não poderia ser de total responsabilidade da polícia.

Semanas antes do confronto, o governador havia sido entrevistado no programa e questionado se não temia um confronto mais sério na região. Almir respondeu que não era com bala e revólver que se resolveria a questão. Ao final da edição, Ney Messias Jr. leu um editorial: “O massacre dos sem-terra é ainda mais cruel do que as imagens mostradas pela TV. A democracia e a cidadania também foram massacradas em Eldorado do Carajás. Um município, como tantos outros do estado, com grandes áreas de terra, onde poderiam ser assentados os trabalhadores rurais. O maior dono dessas terras é o próprio Governo Federal. Só que Brasília continua se perdendo no excesso de burocracia e, por isso, o projeto de reforma agrária não sai do papel. Aí, sim, está a grande causa dos conflitos agrários. Os trabalhadores rurais têm uma proposta de assentamento. Os produtores rurais do estado também têm uma proposta de reforma agrária. E o Governo do Estado já demonstrou interesse em resolver a questão. Só falta agora o Governo Fernando Henrique, dono de grande parte das terras, repassar a posse para os verdadeiros donos. E a classe política pressionar para que isso aconteça. Senão, vão continuar a pegar avião da FAB para vir ao sul do Pará, chorar e rezar pelos nossos mortos.”


Edição completa do “Bom Dia Pará” com a repercussão do massacre em Eldorado do Carajás, exibida em 19 de abril de 1996.


O repórter cinematográfico Ismar Antônio fala sobre bastidores da cobertura do Massacre de Eldorado do Carajás, em abril de 1996.

No 21 de abril, o “Fantástico” exibiu uma entrevista com a repórter Marisa Romão, que havia testemunhado o massacre. Ao relatar o que havia presenciado, a repórter chegou a chorar. Em seguida, foi ao ar uma reportagem de Marcelo Canellas sobre a situação no acampamento dos sem-terra. O enviado especial da Globo entrevistou uma menina que havia assistido à morte do pai e duas mulheres que perderam seus maridos, uma delas grávida. O clima no local era de medo.

O JULGAMENTO

No dia 16 de maio de 2002, foi realizado o julgamento dos envolvidos no massacre de Eldorado do Carajás. O repórter Jonas Campos, então integrante do Núcleo de Rede da TV Liberal, mostrou que no banco dos réus estavam o coronel Mário Pantoja e o capitão Raimundo Lameira. Pantoja foi considerado culpado e condenado a 228 anos de prisão. Já Raimundo Lameira foi absolvido por falta de provas. A reportagem foi ao ar no “Jornal Nacional” daquela noite. Dos 144 acusados, apenas dois foram condenados: o coronel Mário Pantoja e o major José Maria Oliveira, este último a 154 anos. Por serem réus primários, ambos puderam recorrer e responder ao processo em liberdade. Em 2004, a condenação foi confirmada pela Justiça do Pará. Eles chegaram a ser presos, mas foram libertados menos de um ano depois graças a um habeas corpus julgado pelo Supremo Tribunal Federal.

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